Por: Dr. Ricardo Kupka da Silva - Urologista - CRM/SC 12492 RQE 10675
Publicado em 27/07/2017
Sabe aquele possível câncer que a pessoa descobriu totalmente por acaso? Tem nome: é incidentaloma. São lesões descobertas esporadicamente durante exames de imagem realizados na avaliação de algum sintoma que surge sem explicação e permanece constante, sem melhorar ou piorar. Há casos em que o incidentaloma é descoberto em exames de rotina, sem que a pessoa apresente qualquer queixa.
Os incidentalomas mais comuns são os suprarrenal (ou adrenal) e renal, sendo que 4,7% dos incidentalomas de adrenal são carcinomas (câncer maligno). Na maioria das vezes as lesões identificadas são adenomas (tumor benigno).
Dona Maria*, aos 51 anos, nada sabia a respeito desses conceitos quando foi se consultar no Posto de Saúde da cidade, onde mora, devido a uma dor abdominal que vinha sentindo há aproximadamente um mês, de forma contínua, diária, sem irradiação e sem alívio ou piora.
A queixa levou o médico que a atendia a suspeitar de uma colelitíase (pedra na vesícula). Para confirmar o diagnóstico, pediu que D. Maria fizesse uma ultrassonografia abdominal total. O exame revelou a presença de uma massa na glândula suprarrenal direita medindo 4,5 centímetros.
Durante a avaliação médica para diagnosticar e tratar a doença, ela negou a presença de outros sintomas. Nem foram identificadas reações características a hiper ou hipofunção da glândula suprarrenal, alterações no exame físico ou metástases oriundas de um possível tumor de mama, pulmão, rim, melanoma, gastrointestinal e linfoma. Conforme as possibilidades foram sendo descartadas, descobriu-se que o que D. Maria tinha era um adenoma suprarrenal, ou seja, um tumor benigno na glândula que foi removido com cirurgia.
A retirada do tumor por meio de um procedimento cirúrgico normalmente tem como resultado a cura do paciente, que recebe alta hospitalar, em média, 48 horas depois de ter se submetido a extração da lesão. Cerca de 10 dias após a internação, o paciente retorna às atividades normais.
O tumor identificado em D. Maria normalmente é encontrado incidentalmente quando são feitos exames de imagem recomendados para identificação da causa de sintomas como dor lombar, hematúria, dor abdominal e nefrolitíase (cálculo renal).
O incidentaloma de suprarrenal é mais comum em mulheres com aproximadamente 56 anos. A evolução dos exames de imagem tem facilitado o diagnóstico e, quando possível, a remoção por videolaparoscopia tem permitido ao paciente contar com certas vantagens no tratamento, como menor agressividade, cicatrizes mais simples e indolores, diminuição do tempo de hospitalização e retorno mais precoce às atividades profissionais.
*personagem fictício, caso real.
Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-27302000000600013
Material escrito por: Dr. Ricardo Kupka da Silva
- Urologista - CRM/SC 12492 RQE 10675
Dr. Ricardo Kupka é formado em medicina pela UFSC. Especialista em urologia e cirurgia geral no Hospital Governador Celso Ramos. Realizou fellowship em Uro-Oncologia pela USP e Hospital Sírio Libanês, e o doutorado em Urologia na USP. É membro da NeuUro - Núcleo de Estudos em Onco-urologia da Uromed. Seus principais interesses são urologia oncológica e tumores urológicos. Ver Lattes