Por: Dr. Ricardo Kupka da Silva - Urologista - CRM/SC 12492 RQE 10675
Publicado em 26/03/2015
O câncer de próstata é o tumor mais comum nos homens com idade acima de 50 anos. A próstata é uma glândula existente apenas no organismo masculino. Trata-se de um órgão muito pequeno, que fica na parte inferior do abdômen, logo abaixo da bexiga, à frente do reto. A próstata envolve parte da uretra, canal que liga a bexiga ao orifício externo do pênis, por onde a urina é expelida para fora do corpo. Na próstata também é produzida uma parte do sêmen, o líquido que contém os espermatozoides.
Os fatores de risco para o surgimento de tumores na próstata são:
No Brasil, mais de 60 mil homens são diagnosticados, anualmente, com câncer da próstata, segundo levantamento do Instituto Nacional do Câncer (Inca). No mundo, é um dos tipos mais comuns de câncer, e sua taxa de incidência é seis vezes maior em países desenvolvidos, comparado aos países em desenvolvimento.
A doença se fortalece quando o organismo perde o controle sobre as células da glândula prostática, que sofrem mutações genéticas, multiplicam-se e crescem.
Em fase inicial, quando o câncer de próstata ainda tem grande chance de cura, não há qualquer sintoma. O início da rotina de prevenção do câncer de próstata deve basear-se na idade (45 anos) e fatores predisponentes familiares ou raciais (40 anos) e nunca somente nos possíveis sintomas.
Em geral, quando os sintomas urinários são causados pelo câncer de próstata, este já se encontra em fase mais avançada, dificultando o tratamento curativo. Fique atento e procure o seu urologista na idade recomendada, mesmo que não perceba qualquer sintoma.
Com a incidência da doença aumentando ao longo dos anos no Brasil e em todo o mundo, torna-se ainda mais importante os homens reconhecerem os sinais do câncer de próstata para conseguir detectá-lo ainda no início. Há maior chance de cura nos casos em que a doença é descoberta em estágio precoce.
Como o processo de desenvolvimento deste tipo de câncer é lento, o homem não nota a evolução do mal, que não apresenta sintomas diretamente relacionados. Entretanto, há, também, casos em que o processo é rápido e o câncer se desenvolve em um curto espaço de tempo, exigindo tratamento imediato para que não haja metástase – ou seja, para evitar ou retardar que o mal se espalhe para outros órgãos do corpo.
O câncer de próstata é ainda mais perigoso na fase de metástase, quando as células cancerígenas se espalham e causam danos a outras partes do organismo. Ossos, fígado, vesículas seminais, bexiga, dentre outros, são alguns dos órgãos que podem ser atingidos pela doença. Este é um dos motivos pelos quais é tão importante os homens prevenirem-se.
O rastreamento, feito de maneira periódica, ou a atenção a alguns sinais específicos, podem ser um alerta para que os homens procurem auxílio especializado. A busca precoce por um urologista pode fazer a diferença no tratamento do câncer de próstata.
Agende sua consulta caso perceba:
A dificuldade para urinar, geralmente, é associada à infecção urinária ou aumento benigno e fisiológico da próstata. Apesar de ser um sintoma não alarmante, também pode se manifestar em homens com um tumor na próstata.
Homens com qualquer tipo de aumento de volume da próstata também podem sentir a necessidade de ir mais vezes ao banheiro para urinar. O crescimento benigno da próstata é a causa mais comum desses sintomas, mas o câncer de próstata também pode apresentar esses mesmos sinais quando localmente mais avançado. Essas duas doenças não têm correlação causal, mas têm a idade como principal fator de risco. Portanto, caso você precise urinar com muita frequência, investigue o porquê deste sintoma, já que, por vezes, pode ser indício de um câncer de próstata.
A região inferior das costas, frequentemente, é afetada pela dor. Dificilmente o homem pensa que a sensação pode ser um sinal de câncer. Normalmente, isso representa uma dor osteomuscular. Entretanto, casos de câncer de próstata avançado podem disseminar-se para os ossos (geralmente da coluna), gerando quadros de dores crônicas.
Reduzir o risco de desenvolver um câncer é possível se os homens cuidarem melhor da própria saúde e realizarem anualmente os exames indispensáveis para a detecção precoce da doença.
A consulta pode ser realizada com o médico urologista de confiança ou com um profissional que atue, também, em uro-oncologia, para que todas as dúvidas sejam sanadas.
O câncer de próstata pode ser detectado precocemente com duas abordagens que devem ser feitas simultaneamente:
E, ao contrário do que muitos pensam, um não elimina a necessidade de que o outro seja realizado, pois os exames são complementares.
O exame de PSA confere os níveis da substância secretada pelas células prostáticas no organismo a partir de um exame de sangue. Quando há câncer, inflamação e infecção, o PSA é liberado em altos níveis pela próstata. A taxa varia conforme os métodos de dosagem. Cada laboratório tem norma própria para isso.
Normalmente, o exame de sangue usado para verificar os níveis do Antígeno Prostático Específico no corpo é requisitado pelo urologista depois de o homem realizar o exame de toque retal. Por meio dele é que o médico consegue detectar o câncer em estágio inicial, quando ainda é assintomático. Caso, no toque retal, o urologista identifique uma zona endurecida, ou o exame de PSA apresente alguma alteração, o próximo passo é realizar uma biópsia prostática para confirmar o diagnóstico.
Em caso afirmativo, o tumor detectado pode ser maligno ou benigno. Sendo maligno, o paciente deverá realizar outros exames de laboratório para que se verifique o tamanho exato do tumor, o estágio da doença e a presença, ou não, de metástases.
Dois aspectos são considerados pelos urologistas na definição do tratamento do câncer de próstata: a expectativa de vida do paciente e a extensão da doença. Conforme o tamanho e a classificação do tumor, bem como a idade do paciente, o tratamento poderá consistir em:
Em pacientes de idade avançada, com tumores de evolução lenta, há a possibilidade de acompanhamento clínico vigilante, sem procedimentos invasivos.
Quando o homem apresenta um bom estado geral de saúde, apesar da neoplasia, e o tumor está localizado inteiramente dentro da próstata, uma das principais alternativas de tratamento é a cirurgia para remoção completa da glândula, vesículas seminais, gânglios linfáticos ilíacos e uma pequena porção da bexiga em contato com a próstata (prostatectomia radical).
A abordagem cirúrgica para retirada da próstata pode ser feita por meio de três técnicas:
Por qualquer uma delas, a retirada da glândula e, consequentemente, do tumor, é realizada com segurança quando a equipe cirúrgica domina o procedimento. Todas possuem vantagens e desvantagens, por isso, cabe ao médico e ao paciente discutirem os benefícios e as contraindicações de cada uma delas, de acordo com o caso.
Os portadores de câncer de próstata para os quais a cirurgia é indicada têm boas chances de se curar da doença. Segundo o livro Próstata: Isso é com você, de 91% a 100% dos pacientes que receberam o diagnóstico do câncer no primeiro estágio da doença foram curados no período de cinco anos. O índice cai para 71% a 86% para homens cujo diagnóstico foi realizado no segundo estágio, e para 60% quando o câncer é descoberto no terceiro estágio.
Os tumores identificados no primeiro estágio são aqueles localizados dentro da próstata e difíceis de serem detectados pelo toque retal, mas não pelo exame de PSA. O câncer percebido pelo toque, que está circunscrito à glândula, é classificado no segundo estágio. O terceiro estágio é quando o tumor ultrapassa o envoltório da próstata.
A prostatectomia radical é um tratamento com alta expectativa de cura, mas que pode provocar impotência sexual e incontinência urinária. A diminuição da função erétil ocorre com maior frequência em pacientes com mais de 70 anos, mas pode ocorrer em até 50% dos homens na faixa dos 55 e 65 anos, e em 15% dos casos diagnosticados abaixo dos 55 anos.
A incontinência urinária ocorre com frequência muito menor. Quando a cirurgia é realizada por equipes cirúrgicas com grande experiência e com grande volume de prostatectomias radicais por ano, a chance de a incontinência urinária ocorrer não deve ultrapassar 5% dos pacientes operados.
É importante ressaltar que essas possíveis sequelas também ocorrem com a radioterapia, em índices menores ou maiores, dependendo dos detalhes da doença e das características do paciente.
Em geral, homens fora dos quesitos de risco devem se submeter a exames preventivos a partir dos 45 anos.
Afrodescendentes e homens que possuem casos de câncer de próstata na família antes dos 65 anos têm um risco maior de desenvolver a doença. Assim, devem submeter-se a exames a partir dos 40 anos de idade.
Ter uma alimentação balanceada e praticar regularmente algum exercício físico são fatores decisivos no combate ao câncer de próstata.
É interessante reparar que os resultados dos exames PSA e toque retal podem ser falsos positivos, ou seja, podem estar alterados sem que haja a presença do câncer. Por isso, é imprescindível o acompanhamento médico regular, aprofundando a avaliação de um possível quadro de câncer de próstata.
Sem esses cuidados, quando o câncer de próstata for descoberto, pode ser que já tenha se espalhado para outros órgãos, tornando mais difícil o tratamento e a recuperação. Como a maioria dos cânceres que apresentam metástases não tem cura, a melhor forma de evitá-los é investindo na prevenção. Consultar um urologista, realizar os exames necessários e repetir essa atitude todos os anos é um autocuidado mais que necessário e suficiente para manter-se sempre saudável. É bom lembrar disso quando pensar em faltar ou deixar de agendar a próxima ida ao médico. O foco deve ser sempre a prevenção!
Material escrito por: Dr. Ricardo Kupka da Silva
- Urologista - CRM/SC 12492 RQE 10675
Dr. Ricardo Kupka é formado em medicina pela UFSC. Especialista em urologia e cirurgia geral no Hospital Governador Celso Ramos. Realizou fellowship em Uro-Oncologia pela USP e Hospital Sírio Libanês, e o doutorado em Urologia na USP. É membro da NeuUro - Núcleo de Estudos em Onco-urologia da Uromed. Seus principais interesses são urologia oncológica e tumores urológicos. Ver Lattes