Por: Dr. Aguinel José Bastian Júnior
Publicado em 22/06/2025
O câncer urológico acomete homens e mulheres de todas as idades, embora costume ser diagnosticado em pessoas mais velhas, muitas vezes, em estágios mais avançados. Isso ocorre porque muitos não fazem os check-ups médicos com a periodicidade correta. Outras vezes, a doença chega a provocar sintomas, mas os mesmos são negligenciados ou não são investigados.
Por isso, ir às consultas periódicas e estar alerta aos sinais do corpo, buscando ajuda quando identifica que algo não está bem, é imprescindível para uma boa saúde urológica. Afinal, essa postura contribui para a descoberta de diversas doenças, incluindo neoplasias (termo técnico para câncer).
Quer saber mais sobre o assunto? Neste artigo, vamos mostrar os principais aspectos a respeito, incluindo causas, fatores de risco, sintomas, diagnóstico e tratamento. Continue a leitura e tire suas dúvidas.
O termo câncer urológico se refere ao tumor maligno que se desenvolve no sistema geniturinário, ou seja, nos órgãos genitais masculinos e no trato urinário de ambos os sexos. Conheça seus tipos a seguir.
Segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA), este ano devem ser registrados 71.730 novos casos de câncer de próstata no Brasil. Mais do que qualquer outra neoplasia, ele é considerado um câncer típico da terceira idade. Outro aspecto interessante é o peso da hereditariedade como um importante fator de risco.
De acordo com o INCA, neste ano devem ser registrados cerca de 11.370 novos casos de câncer de bexiga (ou câncer vesical) no país. O principal fator de risco para sua ocorrência é o tabagismo.
Dados da Agência Internacional de Pesquisa em Câncer mostram que o câncer de rim (ou câncer renal) costuma afetar mais de 11 mil pessoas por ano no Brasil. Sabe-se que fumar é um dos principais fatores de risco para a doença.
O câncer de glândula suprarrenal (ou câncer adrenocortical) é considerado muito raro. Por esse motivo, não existem estimativas sobre o número de casos diagnosticados.
O câncer de uretra (ou câncer uretral) também é raro e tem sua origem, muitas vezes, relacionada à infecção por papilomavírus humano (HPV). Trata-se do único câncer urológico mais comum em mulheres do que em homens.
O câncer de ureter também é tido como raro. Sua ocorrência está relacionada à síndrome de Lynch, uma condição genética hereditária, e ao tabagismo.
O câncer de testículo (ou câncer testicular) é uma das neoplasias mais comuns em homens jovens. Sabe-se que a ocorrência de criptorquidia (quando os testículos não desceram para o escroto) até os três anos de idade é um importante fator de risco.
O câncer de pênis (ou câncer peniano) é uma neoplasia rara, muitas vezes, ligado à irritação crônica decorrente da falta de higiene íntima e à infecção pelo HPV. Trata-se, na maioria dos casos, de um tipo de câncer de pele.
Um levantamento publicado no Journal of Epidemiology and Global Health abordou a epidemiologia do câncer urológico no Brasil, ao longo de mais de 20 anos. Considerando esse tipo de tumor, constatou-se que:
De forma simples, pode-se explicar o câncer como uma divisão errada das células. Sendo assim, quanto mais tempo vivido, maiores as chances de ter essas duplicações celulares errôneas.
Acontece que o organismo tem um mecanismo natural de proteção, em que os genes agem como defensores, reprimindo, constantemente, a transformação das células saudáveis em malignas. Para isso, eles atuam suprimindo a divisão celular e reparando o DNA danificado.
Com o envelhecimento, no entanto, esse trabalho se torna menos preciso. Por esse motivo, tanto o câncer urológico quanto os outros tipos podem ser mais comuns em pessoas com idades mais avançadas.
Depende da neoplasia, pois cada tipo afeta mais uma faixa etária. Justamente por isso, as campanhas de conscientização ressaltam a importância da realização de consultas médicas e exames preventivos periódicos a partir de determinadas idades.
Na prática, o rastreamento possibilita obter o diagnóstico da doença precocemente. Com isso, pode-se fazer um tratamento menos agressivo, com maiores chances de cura e menos efeitos colaterais.
Dito isso, vamos às faixas etárias de maior prevalência da doença. O câncer de bexiga é mais incidente a partir dos 60 anos. O câncer de rim tende a surgir entre os 50 e os 70 anos. As neoplasias de pelve e ureter, por sua vez, costumam se desenvolver após os 65 anos.
Em relação ao câncer de próstata, sabe-se que ele afeta, predominantemente, homens com mais de 50 anos. Trata-se de um câncer urológico muito conhecido e que possui uma campanha preventiva de amplo alcance, chamada Novembro Azul.
O câncer de testículo afeta homens mais jovens, podendo aparecer a partir da puberdade. O câncer de glândula suprarrenal e o câncer de uretra também costumam surgir por volta dos 50 anos. Já o câncer de pênis acomete indivíduos de qualquer faixa etária, não apresentando a idade como um fator de risco.
O câncer urológico tem diversos outros fatores de risco. Dentre eles, os mais importantes são:
Além desses, é preciso ter atenção especial à hereditariedade. No caso do câncer de próstata, por exemplo, os exames preventivos são recomendados a partir dos 50 anos. Todavia, para homens que possuem histórico da doença na família, principalmente, quando ela acometeu o pai ou os irmãos, a orientação é iniciar os testes aos 40 anos.
Vale a pena conferir: Mitos e verdades sobre o câncer de próstata
Quando se trata da prevenção ao câncer urológico, esta é a orientação mais valiosa: vá às consultas médicas regulares e realize os exames prescritos. Esses têm como função detectar o câncer em estágios iniciais, quando ele é mais fácil de tratar e tem maiores chances de cura.
Além disso, também pode identificar problemas que, com o tempo, podem se transformar em tumores malignos. Nesses casos, o médico indica estratégias para tratar os respectivos fatores de risco e prevenir complicações.
Em estágio inicial, o câncer urológico costuma ser assintomático. Mas, conforme avança, a doença pode provocar alguns sinais e sintomas que, se não desaparecerem em poucos dias, merecem ser investigados. Conheça os principais a seguir.
Geralmente, a presença de sangue na urina (hematúria) é um sinal de infecção urinária. Mas, também pode ser um indicativo de câncer na bexiga, nos rins ou na próstata.
Na dúvida, o médico costuma verificar, primeiramente, se há uma infecção a ser tratada. Não sendo o caso, irá investigar outras possibilidades.
A dor persistente significa que algo no corpo não está bem e, por isso, não deve ser ignorada. Algumas vezes, dores abdominais e lombares estão relacionadas ao câncer de rim. Já desconfortos na parte inferior do abdômen, na virilha ou no testículo podem estar relacionados ao câncer de testículo.
Toda perda de peso sem motivação precisa ser investigada. Assim, quando os dígitos informados na balança começam a diminuir muito, sem que tenha sido feito qualquer esforço para emagrecer, é preciso desconfiar.
Isso porque, quilos a menos, que começam a ir embora de maneira inexplicável, podem representar um sério problema de saúde. Entre os possíveis causadores do emagrecimento repentino, estão os tumores malignos.
Você sabia que três semanas é o tempo médio que uma ferida benigna leva para cicatrizar? Por isso, se após 20 dias o ferimento estiver do mesmo jeito, é preciso ir ao médico e verificar o que pode estar acontecendo.
Uma característica do câncer de pênis, por exemplo, é formar uma ferida superficial (verrucosa, plana ou ulcerada) que não cicatriza ou uma úlcera profunda com bordas elevadas. Esse tipo de lesão é, frequentemente, encontrado na glande (a chamada “cabeça” do pênis).
A febre de origem desconhecida é um problema clínico comum e definido pela temperatura corporal acima de 37,8ºC. A condição é comumente associada à presença de infecções, mas, se permanente, pode estar ligada ao câncer.
Quando a bexiga não está funcionando adequadamente, podem surgir um aumento da frequência das micções. Outros sintomas associados são a sensação de urgência urinária e/ou desconforto ao urinar. Algumas vezes, essas manifestações podem ser provocadas pelo câncer vesical.
Leia também: Dor na bexiga: conheça as principais causas e o que fazer
O aumento do volume abdominal pode ser provocado pelo crescimento de um tumor. Isso pode ocorrer em casos avançados de câncer de rim, por exemplo.
Um nódulo palpável e indolor no testículo pode ser um tumor maligno. Outra manifestação associada à presença tumoral é a mudança no formato ou tamanho do órgão.
Boa parte das pessoas tendem a achar que sintomas como esses são triviais e, por isso, não é preciso procurar um médico. No entanto, deveriam agir de maneira contrária e se preocupar quando eles aparecem, inclusive, marcando uma consulta com um urologista de confiança. Dessa forma, é possível identificar e, se preciso, combater o que, de fato, está por trás do seu aparecimento.
Aliás, não custa lembrar que, no caso de incômodos no sistema urinário, as mulheres também devem ir ao urologista. Isso porque, ele é o especialista que cuida dos rins, ureteres, bexiga, uretra e adrenal, em ambos os sexos.
Saiba mais em: Consulta com o urologista: particularidades para homens e mulheres
Como explicado, estar alerta quanto aos sinais do corpo e buscar ajuda quando se identifica que algo não está bem é essencial para a saúde. Nesse sentido, a auto-observação diária do organismo é uma atitude que contribui para a descoberta de diversas doenças, incluindo um possível câncer urológico.
É claro que muitos dos sinais e sintomas descritos anteriormente não são causados por neoplasias. Entretanto, caso sejam relacionados, o diagnóstico precoce potencializa, e muito, as chances de cura.
Portanto, desconfie e consulte seu urologista caso perceba um ou mais sinais e/ou sintomas suspeitos. Isso porque, eles podem, sim, ser indicativos de tumores urológicos.
O diagnóstico de um câncer urológico envolve, além da análise dos sintomas, hábitos de vida e histórico médico (pessoal e familiar), exames:
Para a confirmação da doença e determinação do estadiamento, realiza-se uma biópsia. Essa consiste na remoção de amostras de tecidos anormais, para subsequente análise laboratorial.
O tratamento de um câncer urológico é definido individualmente, conforme cada caso, e conduzido pelo especialista em onco-urologia (ou uro-oncologia). A boa notícia é que grande parte das neoplasias podem ser tratadas com técnicas minimamente invasivas (como videolaparoscopia e cirurgias por endoscopia).
Muitas vezes, os procedimentos cirúrgicos são associados a terapêuticas como quimioterapia, radioterapia, entre outras. A escolha de tratamentos multimodais, vale destacar, é uma estratégia que visa melhorar os resultados.
Além disso, sempre que possível, é importante contar com cuidados multidisciplinares, objetivando favorecer o bem-estar e a qualidade de vida do paciente. Considerando que o câncer é uma doença complexa, que pode gerar impactos físicos, emocionais e até sociais, pode ser preciso o acompanhamento de psicólogos, nutricionistas, fisioterapeutas, entre outros especialistas.
A resposta ao tratamento e as chances de cura dependem do estágio da doença, da localização do tumor e das condições de saúde geral do paciente. Também variam em função da presença, ou não, de metástase (disseminação das células cancerosas por via sanguínea ou linfática).
O mais importante é ter em mente que, para favorecer a detecção precoce de um câncer urológico, é imprescindível realizar os exames de rotina. Afinal, mesmo em caso de desenvolvimento da doença, quanto mais cedo a descoberta, maiores as chances de sucesso do tratamento!
Esperamos que o conteúdo tenha sido esclarecedor. Mas, se ainda restarem dúvidas, entre em contato com os especialistas em urologia oncológica da Uromed – Clínica do Aparelho Gênito-Urinário, localizada em Florianópolis, SC!
Material escrito por: Dr. Aguinel José Bastian Júnior
- Urologista - CRM 5179 RQE 9107
Formado em medicina e mestre em ciências médicas pela UFSC, o Dr. Aguinel Bastian Júnior é doutor pela USP e desde sua especialização dedica-se ao estudo e tratamento onco-urológico. É membro da equipe do NeoUro – Núcleo de Estudos em Onco-urologia da Uromed. Ver Lattes